Uma ocorrência feliz na sala de aula levou-me o pensamento para o livro, Como um Romance, do professor e escritor Daniel Pennac.
Que espantosos pedagogos nós éramos, quando não nos preocupávamos com a pedagogia.
O que é uma leitura filosófica?
De imediato, ela não é uma leitura espontânea, no sentido de leitura habitual; vai para além do discurso da opinião.
Com ela pretende-se que o sentido do problema e o problema do sentido se cruzem duma forma problemática, interrogativa, questionante e crítica. É um processo de indagação permanente entre o texto e o leitor. Exige o diálogo hermenêutico. E, neste sentido, não é doutrina. É conhecimento.
A leitura filosófica é uma actividade e uma atitude; questionando o texto, questionamo-nos a nós.
A profissão de professor, também este um termo algo opaco, suporta todas as nuances possíveis entre, num extremo, na forma de vida rotineira e desencantada e, no outro, um elevado sentido de vocação. Compreende numerosas tipologias que vão desde a do pedagogo destruidor de espíritos à do Mestre carismático. Imersos como estamos em formas de ensino quase inumeráveis - elementar, técnico, científico, humanista, moral e filosófico - raramente nos distanciamos o suficiente para reflectir sobre as maravilhas da transmissão de conhecimentos, os recursos da falsidade e aquilo a que chamaria, à falta de um termo mais preciso e concreto, o mistério da função.
George Steiner, As Lições do Mestre, Gradiva, 2005, pp11
A análise, das relações entre mestre e discípulo, converte-se numa Lição.
Explicação simplificada - diz Steiner - do cruzamento dos eixos do tempo sobre a problemática do ensino e da aprendizagem.
Acentua a marca de transmissão de conhecimentos.
Recorda a etimologia da palavra transmissão (tradendere). Relaciona-a com a de traditio (o que foi transmitido) e com as de traição e tradução.
Salienta, de forma magistral, que a forma mais honesta de autoridade didáctica se faz através do exemplo.
E que o ensinamento é acção e silencioso; e oralidade.
Aqui o Mestre fala.
Não há ofício mais privilegiado. É trans-missão.
Re-comecemos a Lição.
sophia de mello breyner andresen