Sócrates - (...) Mas aquilo a que eu chamo retórica é a parte de um todo que não pertence ao número das coisas belas.
Górgias - Parte de quê, Sócrates? fala, sem receio de me ofender.
Sócrates - Penso, Górgias, num género de ocupação que nada tem de científico e que exige um espírito intuitivo e empreendedor, por natureza apto para o convívio com as pessoas. Dou-lhe o nome geral de adulação.
Platão, Górgias, Ed 70
Platão, escritor de fina ironia, apresenta, ao longo da sua vasta obra, o pensador como um artista. Não admira. Foi invulgarmente dotado para a representação dramática e para a comédia. Sem surpresa, portanto, o Diálogo, como forma de investigação racional; e de exposição das Ideias. Entretanto, pelo caminho, na República, conflitua com os poetas.
Sob a aparente simplicidade, a pergunta de Platão sobre "O que é?" esconde a complexa problemática acerca do Saber.
Ora, em Platão, o Saber é a finalidade única duma vida digna, só ele institui um projecto de educação dos cidadãos.
A virtude é saber, diz Platão.
A justiça existirá apenas onde aqueles não afectados pela injustiça se encherem da mesma indignação que os ofendidos.
Platão
Um homem escravo das suas paixões não pode ser amado nem pelos outros nem pelos deuses. Ele é incapaz de ter interesses comuns com os demais e, sem interesses comuns, não pode haver amizade.
Platão, Górgias
O tempo é a imagem móvel da eternidade.
Platão
O vocábulo "música" designava para os gregos, não só a música propriamente dita, mas todas as belas-artes, assim como a cultura do espírito em geral.
Platão esclarece no Fédon (Prólogo), esta questão:
No curso da minha vida, tinha sido, com frequência, visitado por um sonho, hoje sob uma forma, amanhã sob outra, o qual me aconselhava constantemente a mesma coisa: Ó Sócrates, dizia ele, trata de cultivar a música e dedica-te a isso. Ora eu julgava que àquilo, que na vida passada tinha feito, me exortava e incitava o sonho. Semelhante aos que animam os corredores, assim ele, na minha opinião, me animava também a prosseguir o que tinha principiado - a dedicar-me à música, pois não existe música, pensava eu, mais excelente que a filosofia, à qual eu me dedico.
Sócrates (470/469-399 a. C), dialogava na praça pública, questionando os homens sobre o seus saberes. Por isso, representou uma forte ameaça ao governo ateniense, pelo qual foi julgado e condenado à morte: por adorar novos deuses e corromper a juventude da Cidade.
Alguns excertos- algo irónicos- da defesa de Sócrates, no tribunal:
Que mereço eu pagar ou sofrer, por não ter aprendido a ficar quieto na vida, descurando aquilo com que as gentes se preocupam: riqueza, propriedades, postos militares, honras públicas e outros lugares de chefia, além de grupos e facções políticas, que continuam a crescer na cidade. (...)
(...) o maior bem que pode haver para um homem é, todos os dias, discorrer sobre a excelência e sobre outros temas acerca dos quais me ouvíeis dialogar, investigando-me a mim e aos outros. (...) uma vida sem pensar não é digna de ser vivida por um homem(...).
(...) fui apanhado em dificuldades, não de palavras, decerto, mas de ousadia e desvergonha e falta de vontade de vos dizer aquelas coisas que mais vos agradaria ouvir. (...) Mas, por estar em perigo, não julguei necessário fazer algo indigno de um homem livre, nem agora me arrependo de me ter defendido assim, pois prefiro morrer com essa defesa a viver com a outra.
Platão, Apologia de Sócrates
A verdade, o mais belo nome da realidade, é uma vagabundagem divina.
Platão
O mito de Orfeu exerce forte atracção no imaginário da cultura ocidental.
Encontramos vestígios deste mito na música - Montiverdi, Offenbach, Liszt, Casella, Stravinsky - e no cinema.
Na pintura, o poeta Apollinaire criou o termo cubismo órfico influenciando pintores como Delaunay, Picabia e Duchamp.
Orfeu, ao que sabemos, foi um poeta de grande habilidade musical e um mestre do encantamento.
Mas é Platão que o eleva, ainda na época clássica, a figura principal.
Tantos trabalhos passou Orfeu para trazer Eurídice do Hades. Mas olhou para trás; para o corpo, para o sensível. Perdeu-se.
Começa aqui a compreensão da obra Fédon de Platão.
Como Platão nos diz no Teeteto, a recompensa dos homens que gostam de filosofar encontra-se na vida que levam.
Vale mais sofrer a injustiça do que cometê-la.
Sócrates
sophia de mello breyner andresen