Entre a transição e a reconfiguração do mundo actual, o conhecimento como método de transformação. Sobre a universalidade dos riscos. Um texto a ler!
Sim, há um país que não esquece. Sim, há um país que quer Humberto Delgado.
Chaves, Maio de 1958. Humberto Delgado em campanha eleitoral.
Imagem encontrada em "Grupo Cidade de Chaves", FB.
(Obrigada, pai, por estares ali tão perto...)
Depois da vitória impressionante do Syriza, a esperança anda à solta. Pandora cumpriu.
- A nação é de todos. A nação tem de ser igual para todos. Se não é igual para todos, é que os dirigentes, que se chamam Estado, se tornaram quadrilha. Se não presta ouvido ao que eu penso e não me deixa pensar como quero, se não deixa liberdade aos meus actos, desde que não prejudiquem o vizinho, tornou-se cárcere. Não, os serranos, mil, cinco mil, dez mil, têm tanto direito a ser respeitados como os restantes senhores da comunidade. Era a moral de Cristo: por uma ovelha... Se os sacrificam, cometem uma acção bárbara, e eles estão no direito de se levantar por todos os meios contra tal política.
Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam, 1958
O que aconteceu ao sonho europeu? Tornou-se uma máquina de punir. Á medida que o funcionamento desta máquina se aperfeiçoa, instala-se a sensação de que elites que se sucedem umas às outras aproveitam cada crise para endurecer as suas políticas de austeridade e impor a sua quimera federal.
Pode ler o texto aqui
Será que as políticas económicas impostas pelo defesa do euro são ainda compatíveis com as práticas democráticas?
Ainda esta semana, na secretaria da escola, fui prontamente corrigida ao designar o grupo disciplinar em que lecciono: - Não professora, 410.
Um texto, oportuno, onde, através de um jogo de linguagem, se pensa a Escola e os seus desafios actuais.
Ontem, no Público
O sistema funciona como uma série de cavernas rochosas, em que já não sabemos se estamos a ouvir o grito ou o eco. A notícia é já somente a reverberação daquilo que disse fulano sobre o que comentou sicrano acerca do desafio lançado por beltrano.
(...)
A verdadeira tragédia anda soterrada debaixo de tanto falatório. Está nas pessoas desempregadas, na dificuldade em pagar as contas, nas dívidas que se acumulam, nos negócios que vêem aproximar-se a guilhotina das falências. Pior, a verdadeira tragédia vive exacerbada por este ambiente político e mediático: esperando por um ponto de viragem, mas só encontrando no discurso público inconsequências e mais-do-mesmo, as pessoas acabam por descrer.
Rui Tavares
Depois de uma semana fora do país, regresso a casa por volta das 21h. A RTP1 tem no ar O Fim do Silêncio, um programa de humor negro acerca das grandes narrativas do passado recente e de algum presente. Em duas horas, José Sócrates transforma-se na Palavra.
Com a ajuda de Kafka, permaneço em Praga e memorizo as metamorfoses múltiplas por que passa a história dos homens.
Um facto aqui, outro ali, estamos outra vez na Europa de 1945, obrigados a partir do nada, forjando uma geração de contestatários, revendo princípios e valores, estupefactos com a insolência das tríades dominantes. Por enquanto, esse sentimento de estupefacção obnubila a visão de conjunto. Sabemos que algo terá de acontecer, mas não exactamente o quê, nem quando. Até lá, por cada mercearia que falir, um banco será resgatado com o dinheiro dos nossos impostos.
Da Literatura
e cada dia que passa é demasiado tarde,
Esta narrativa e esta arquitectura de subalternização do estatuto dos cidadãos terá de ser contrariada no ano que agora começa. Não é tarefa fácil. Desde 2012 que os responsáveis pela austeridade, pela espiral recessiva e pelo desastre social perceberam que os cidadãos são uma maçada. Um «entrave» à governação, tal como a Constituição e a democracia. O aumento da contestação, nas suas múltiplas formas, fez regressar o povo como sujeito histórico e mostrou-lhes que era tempo de juntar algumas cenouras ao discurso do bastão dos «malandros culpados».
Sandra Monteiro
A regressão dos direitos socias não tem fim. Tendo como pretexto a crise conjuntural que atrofia os mercados, diz-se, prossegue, sem regras, o desmantelamento do sistema de segurança social, operando uma ruptura drástica nos seus princípios organizadores. Maria Clara Murteira, economista e professora da faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, refere que são desconhecidos, até ao momento, os contornos do projecto de "refundação do Estado". Certo, certo é que o rosto do projecto neoliberal revela-se; e revela-se incapaz de assegurar um destino colectivo de segurança económica e justiça social.
Pela arte manifesta-se, também, a indignação com as desigualdades sociais e políticas. O quadro Guernica, pintado por Pablo Picasso, que retrata a Guerra Civil Espanhola, exemplifica significativamente a questão colocada.
Pablo Picasso foi perseguido e preso pelas tropas do general Franco. Ao prendê-lo, perguntaram a Picasso: Quem pintou guernica? e ele respondeu: Foram vocês!
E o mundo continua a pintar; desenfreadamente.
Quem acredita?
Mitigar: do latim “tornar suave, aliviar”. Logo, tornar menos penoso, reduzir as consequências.
Qualquer homem sensato reconhece os limites do seu saber e da sua acção. Ora, o problema de Passos Coelho não reside na explicação da estratégia ao país, mas na estratégia da explicação. É indispensável para o orador conhecer o auditório sobre o qual exerce a acção. Passos Coelho demonstra não o saber, é um político afastado da vida, rodeado de gente que gosta da frescura do ar condicionado dos gabinetes. Quando assim é, o princípio da discutibilidade torna-se inoperante.
sophia de mello breyner andresen