Os teus lábios, digo-te, não são doces
Como mel.
(o mel acaba por enjoar)
Mas são doces, os teus lábios, digo-te.
Mas doces como quê?
Ora, doces como eles são.
Doces?
Sim, olha doces como pão
Que todos os dias comemos
Sem fartar.
Rui Knopfli, Obra Poética, Imprensa Nacional-Casa da Moeda (2003), pág 43
Não faço o que quero
faço o que posso.
E o que posso passa
pelo passo da dificuldade.
Palavras tenho poucas,
duras, despidas estacas,
complicando a minha escolha.
Ermas e perfiladas
ergo-as ao sol na vertical
e são monótonas e dão sombra.
Com elas levanto quatro nuas
paredes, um tecto em forma
de prece. Dificilmente
construo uma casa fácil
Fácil é fazer difícil,
difícil fazer o fácil.
Rui Knopfli (1932 - 1997)
sophia de mello breyner andresen