profano, prático, público, presto, profundo, precário,
improvável poema,
contudo
nem eu estava à espera dos bárbaros que viriam devastar
a terra,
porque éramos inocentes,
nós que só queríamos silêncio,
e a voz diria que se fosse preciso traziam Deus,
e é assim possível que trouxessem qualquer espectáculo com
cristos nus e saltimbancos de feira,
Herberto Helder, Servidões
Servidões. E visões e vozes. Mas sem alma, nada há a salvar. E a música, a música, quando, como, em que termos...
e a música, a música, quando, como, em que termos
extremos
a ouvirei eu,
e ela me salvará da perda da terra, águas que a percorrem,
tão primeiras para o corpo mergulhado,
magníficas,
desmoronadas,
marítimas,
e que eu desapareça na luz delas -
só música ao mesmo tempo nos instrumentos todos,
curto poema completo,
com o autor cá fora salvo no derradeiro instante
numa poalha luminosa?
Servidões, Herberto Helder, Assírio & Alvim, p. 55.
sophia de mello breyner andresen